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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

The Medium: um toque do passado na nova geração


 A Bloober se consolidou nos jogos de terror nos últimos anos com títulos como Layers of Fear e Observer, e acabaram com a difícil tarefa de fazer o primeiro exclusivo para o Xbox Series X/S e mostrar todo o poder que o console tem a oferecer.

-Tudo começa com uma garota morta

Marianne é uma garota que tem um dom especial, ela se vê constantemente dividida entre duas realidades, a dos vivos e a pós vida, uma espécie de limbo onde almas que de alguma forma ainda estão presas e não conseguem seguir para um lugar melhor. Após entender que aquilo não era uma coisa normal e que outras pessoas não viam o mundo dessa forma, ela se dedica a ajudar essas almas a conseguirem seguir o seu rumo. No momento que ela leva seu pai adotivo para o outro lado ela, uma ligação misteriosa dizendo que tem respostas sobre o pesadelo constante dela de uma criança morrendo numa floresta no resort Niwa, um lugar abandonado onde corre uma história de um massacre misterioso a alguns anos atrás. Em Niwa ela procura Thomas, o homem misterioso da ligação enquanto é auxiliada por um espírito chamado de tristeza que por algum motivo não quer fazer a transição para o outro lado.

Durante toda a jornada por Niwa, Marianne vai se deparar por várias histórias de pessoas que se foram, enquanto precisa fugir de uma criatura que habita o lugar procurando almas perdidas para consumir.

O jogo aborda temas muito pesados envolvendo diversas formas de traumas e abusos, e como essas cicatrizes para sempre serão um tormento podendo tirar toda a humanidade das pessoas. Tudo é tratado com a devida seriedade e mesmo mostrando que certas pessoas terríveis têm vários traumas ele não tenta redimir suas ações. A construção de mundo também é muito boa, as regras envolvendo os poderes de Marianne e os espíritos são muito bem explicadas, o contexto histórico que o jogo se passa também se encaixa na história, entretanto uma revelação no momento final do jogo podia ter ficado menos explícita, já que durante toda a jornada essas respostas podem ser encontradas pelo jogador.

A trilha sonora feita por Akira Yamaoka junto de Arkadiusz Reikowksi como seus outros projetos e impecável dita muito bem os momentos, e ainda traz algumas surpresas para quem gosta das trilhas de Silent Hill.

-O poder da nova geração

Para representar visualmente a realidade dividida da protagonista, a Bloober decidiu fazer que só poderia ser possível nos novos consoles, renderizar duas cenas diferentes de uma vez. São dois cenários distintos feitos de uma vez, com diferenças de estrutura, e arte. Enquanto o mundo real segue uma linha artística mais padrão sua contraparte se destaca artisticamente. Inspirada pelas obras do pintor polonês zdzisław beksiński trazendo uma atmosfera bela e melancólica. Um lugar desolador similar a um mundo pós apocalíptico, junto de ossos, peles e uma coloração remetendo um pouco ao mundo invertido de Silent Hill. Essa divisão também é refletida nas mecânicas do jogo.


Já que as duas realidades se diferem ambas serão importantes para resolver puzzles e avançar, uma alteração no lado dos espíritos também altera o mundo físico e vice-versa. Além dos momentos com a realidade dividida existem momentos em que uma se sobrepõe a outra, para não deixar a experiência tão exaustiva, e trazendo outras formas de puzzles. A câmera do jogo remete a jogos de terror dos anos 90 paradas em pontos fixos no cenário, é um recurso extremamente eficiente para deixar o jogador apreensivo já que ele vai ver o que o jogo quer que ele veja. Aqui ela não gera muitos sustos como no primeiro Resident Evil por exemplo, mas existem uns bons momentos que a câmera te pega desprevenido.  Não existe nenhuma forma de combate, só alguns breves momentos que é preciso passar despercebido pela criatura, que no plano físico pode ser um pouco complicado já que a criatura é invisível, nada que pode fazer o jogador largar o jogo, mas que poderia ter sido melhor implementado.

Com as duas realidades vem também problemas de otimização, no PC ele apresenta um problema grave de otimização, nas recomendações mínimas ele beira o injogável nos momentos de tela dupla. Além disso, ele apresenta uma série de bugs que envolve coisas como a câmera ficar travada numa cena enquanto devia ter trocado, cutscenes não iniciando e um onde na área final a criatura fica presa na porta onde precisamos passar tornando impossível avançar.

-Não é Silent Hill, mas é quase

The Medium bebe muito de jogos de terror dos anos 90, principalmente de Silent Hill, em temas, mecânicas e até em alguns pontos estéticos, mas usa isso para tornar uma coisa própria, pode ser um início para uma franquia que se torne gigante. No momento ela mata um pouco a saudade da franquia da konami que pode nunca retornar.